sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Quem são os brasileiros que usam Linux?

Sensacional o texto abaixo postado por Leonardo Fontenelle em seu blog

Li recentemente a "Pesquisa sobre o Uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação no Brasil 2009", publicada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, e descobri que o documento traz inclusive estatísticas de sistema operacional. Em resumo, 86% das famílias brasileiras têm o Windows instalado em seu computador principal; essa proporção é de 1% para o GNU/Linux, e desprezível para Mac e outros. 13% dos entrevistados não souberam ou não quiseram responder à pergunta.

O relatório prossegue analisando a variação dessas proporções de acordo com o local (área urbana ou rural), a região do país, a renda familiar, e a classe social/econômica. Em quase todos os grupos, o uso de Linux continua em 1%. As exceções ficam para:

* Área rural: uso desprezível;
* Região Norte: 2% de participação;
* Renda familiar maior que R$ 4.650: 3% de participação;
* Renda familiar entre R$ 931 e R$ 1.395; e entre R$ 2.326 e R$ 4.650: uso desprezível.

Não houve variação por classe econômica.

A fatia da população brasileira que mais usa Linux parece ser a mesma que tem banda larga: os moradores da área urbana (quase não existe banda larga na área rural) e aqueles com renda familiar mensal acima de R$ 4.650. Já vai longe a época em que o modelo de negócios da Conectiva era vender seu sistema operacional numa caixa.

Imagino que trabalhar com tecnologia também ajude, mas isso não foi avaliado na pesquisa.

Já o programa Computador Para Todos parece ter tido um efeito modesto. As famílias com renda mensal menor que R$ 931 usam o sistema operacional mais que os do estrato imediatamente superior, mas ainda assim a proporção ficou em meros 1%.

O que mais me surpreendeu foi a região Norte. Colegas nortistas, será que as comunidades daí são mais ativas?

Outra informação que não entendi foi a proporção não variar de acordo com a classe econômica. Intuitivamente, as pessoas com maior renda estão numa classe econômica superior, mas isso não é verdade, ou ao menos não para os usuários de Linux.

O estudo do CGI.br usou o critério de classe social/econômica da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa. A ABEP também divide as classes econômicas pela renda (como o IBGE), mas disponibiliza uma ferramenta que permite estimar a renda. Essa ferramenta (o Critério de Classificação Econômica Brasil — CCEB) consiste num sistema de pontos atribuídos à posse de bens de consumo e ao grau de instrução do chefe da família.

É possível ganhar muito e ter poucos bens ou pouco estudo, e talvez esse seja o perfil dos usuários de Linux.

O estudo só considerou aquilo que todo o mundo entende por computador, ou seja, dispositivos embarcados ou celulares não contam. A metodologia não considerou os computadores que não o "principal", e não consegui encontrar na metodologia a definição operacional de o que seria um computador principal, ou como lidar com o dual boot.

Como já foi dito, em 13% dos domicílios o entrevistado não soube informar o sistema operacional. Essa proporção é ainda maior na região rural, nos domicílios com menor renda familiar, e nas classes D e E. Esses números são uma ordem de grandeza superiores à fatia que usa Linux, causando imprecisão na estimativa.

Reparem que o 1% de usuários Linux é a proporção dentre todos os entrevistados, e não apenas entre os que souberam responder à pergunta. Dessa forma, o número real de domicílios brasileiros com Linux é qualquer coisa entre 1% e 14%.

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