sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Pesquisadores buscam vítimas da Guerrilha do Araguaia

Quase 40 anos depois da Guerrilha do Araguaia, as buscas por vestígios dos 73 desaparecidos ainda continua. A 14ª expedição na região do Pará, coordenada pelo Ministério da Defesa, começou em abril e segue até o fim do ano. Desta vez, no entanto, os trabalhos para encontrar vítimas do movimento rebelde que lutou contra a ditadura militar no início da década 1970 contam com uma estrutura técnica e logística diferenciada. Como a participação de quatro representantes da Universidade de Brasília, a principal parceira da ação, e o empenho inédito do Exército.

Do Instituto de Geologia (IG), integram o Grupo de Trabalho do Tocantins (GTT) - criado pela portaria 567/2009 para fazer as buscas - o professor Welitom Rodrigues, o geólogo Gustavo Melo e o técnico Péricles Brito. Eles estão responsáveis por localizar vestígios de vítimas em locais apontados como área de desova de corpos. “Vamos usar um radar de penetração do solo, que vai indicar terrenos onde houve interferências na terra”, comentou Rodrigues. A equipe do IG, que passou duas semanas na cidade de Marabá em julho, volta a campo em 10 de agosto.

Welitom explica que a principal dificuldade no trabalho são as interferências feitas por agricultores que trabalharam no local ao longo das últimas quatro décadas. “Há lugares apontados como covas que já foram arados ou remexidos por tratores. Isso dificulta a localização das ossadas”, observou ele, que ressalta as chances de sucesso com o uso do radar. O quarto membro da UnB é o historiador Hugo Studart, autor do livro A Lei da Selva: Estratégias, Imaginário e Discursos dos Militares sobre a Guerrilha do Araguaia, de 2006.

Profundo conhecedor do tema, ele usa os fatos da época para reconstituir as cenas dos crimes e identificar as vítimas. "Com base nos relatos é possível recontruir algumas execuções, como se foi perto de um igarapé ou uma árvore. Mas a paisagem mudou bastante desde então e ainda temos dificuldades para encontrar os pontos exatos", comentou o especialista, que ressaltou a confiança depositada pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, na UnB. "A universidade foi apontada como uma espécie de analista da lisura do prcesso", disse o pesquisador.

ESCAVAÇÕES - Além dos especialistas da UnB e dos militares que coordenam as ações de campo do GTT, o grupo conta com antropólogos, médicos legistas e peritos forenses de diversos estados brasileiros. Os trabalhos foram divididos em quatro etapas: constituição do GTT, reconhecimento da área onde pode haver corpos, escavação para coleta de vestígios (como arcadas dentárias e pequenos ossos) e o trabalho de laboratório para identificação das vítimas.

Segundo o historiador Hugo Studart, ainda há 54 guerrilheiros, 18 camponeses e um miltar desaparecidos na região da guerrilha, que ocupou praticamente todo o estado do Pará. "Montamos uma ouvidoria para conversar com os mateiros e outros sobreviventes que viveram na época da guerrilha para encontrar os terrenos que podem ter restos de vítimas", comentou. Entre os sobreviventes do combate às margens do rio Araguaia está o ex-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) José Genuíno.

Antes do início dos trabalhos, os pontos previstos para o reconhecimento eram 14, selecionados com base em pesquisas e na bibliografia existente. No entanto, por sugestão dos integrantes do GTT, o número de locais a serem investigados antes das escavações subiu para 17. Segundo informações do Ministério da Defesa, no próximo 10 de agosto as máquinas para cavar os terrenos entram em ação.

A criação do grupo e o extenso número de expedições à região onde houve o derramamento de sangue tem o objetivo de cumprir sentença da 1ª Vara Federal do Distrito Federal, de junho de 2003. O documento determina: “condenação da ré (União) para cumprimento das exigências de indicação de local dos restos mortais das vítimas, promovendo-lhes sepultamento condigno com informações necessárias à lavratura da Certidão de Óbito, e dados referentes à investigação dos fatos sob pena de multa diária”.



fonte : Universidade de Brasília