sexta-feira, 13 de agosto de 2010

UCA: professor tem que mudar

O programa "Um Computador por Aluno" não terá resultado se a mudança digital não começar pelos professores da rede pública de ensino.

A afirmação é de Léa Fagundes, professora e pesquisadora da UFRGS que coordena parte do programa em escolas gaúchas e falou nesta quarta-feira, 21, durante o workshop UCA – parte da programação do 11° Fórum Internacional do Software Livre.

Léa, que apresentou o projeto para uma platéia de 127 professores, coordena o projeto no estado entre as escolas que receberam o modelo XO, da organização One Laptop Per Child (OLPC). No Rio Grande do Sul, quatorze escolas já receberam os equipamentos.

O projeto do governo federal, que recebeu investimentos de US$ 82 milhões, já comprou 150 mil laptops (Classmate, XO ou Mobilis) para atender 300 escolas públicas de vários estados do Brasil

No entanto, não é bem recebido com entusiasmo por todos os docentes, conforme questionamentos levantados durante o workshop. Entre a preocupação dos professores participantes está o controle de sala de aula, o conteúdo a que os alunos terão acesso em um ambiente online e até mesmo a diminuição da interação em sala de aula.

A resposta de Léa? É preciso deixar de ser um professor de “alguma matéria” para tornar-se um educador que gerencia o espaço em aula de forma adequada aos novos tempos.

“O objetivo é o mesmo. Você tem que buscar desenvolver as habilidades e competências do aluno. Mas a aula não tem que ser somente linear. As crianças não pensam assim”, afirma a pesquisadora que diz não saber mais trabalhar sem o laptop tamanha a melhoria trazida para a sala de aula.

Professora de quarta série da Escola de Ensino Fundamental Luciana de Abreu, de Porto Alegre, Léa mantém os computadores disponíveis para os alunos durante todo o decorrer da aula.

“Os alunos trabalham por projetos. Escolhem um tema, levantam hipóteses pesquisam o aspecto que julgam mais interessante, apresentam e postam no site. É um trabalho interdisciplinar e muito rico”, afirma a pesquisadora contando que o computador não substitui as técnicas “antigas” como dinâmicas de grupo, experimentações com materiais, entre outros, mas vem ao encontro das mesmas.

Claro que nem tudo é perfeito e, além de eventuais problemas técnicos, os alunos tem alguns momentos de distração na internet que já acabaram até em sites pornográficos e redes sociais.

“Toda a movimentação do aluno fica registrada. Ele pode entrar em determinados sites durante seu tempo livre. Mas se é algo mais grave, chamamos para conversar e explicamos o porque de não entrar nestes espaços virtuais”, declara a professora.

Juntamente com Léa, estava um grupo de alunos de quinta série que vem usando o laptop desde que o programa, ainda em fase piloto, foi adotado.

Para os alunos, é difícil voltar ao velho esquema de cadernos e quadro negro. “Hoje temos editores de texto, então estranhamos quando algum professor substituto pede que usemos cadernos e canetas”, conta Gabriela, uma das alunas da quinta-série.


Márcia Lima - quarta-feira, 21/07/2010 - 17:11

Quem são os brasileiros que usam Linux?

Sensacional o texto abaixo postado por Leonardo Fontenelle em seu blog

Li recentemente a "Pesquisa sobre o Uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação no Brasil 2009", publicada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, e descobri que o documento traz inclusive estatísticas de sistema operacional. Em resumo, 86% das famílias brasileiras têm o Windows instalado em seu computador principal; essa proporção é de 1% para o GNU/Linux, e desprezível para Mac e outros. 13% dos entrevistados não souberam ou não quiseram responder à pergunta.

O relatório prossegue analisando a variação dessas proporções de acordo com o local (área urbana ou rural), a região do país, a renda familiar, e a classe social/econômica. Em quase todos os grupos, o uso de Linux continua em 1%. As exceções ficam para:

* Área rural: uso desprezível;
* Região Norte: 2% de participação;
* Renda familiar maior que R$ 4.650: 3% de participação;
* Renda familiar entre R$ 931 e R$ 1.395; e entre R$ 2.326 e R$ 4.650: uso desprezível.

Não houve variação por classe econômica.

A fatia da população brasileira que mais usa Linux parece ser a mesma que tem banda larga: os moradores da área urbana (quase não existe banda larga na área rural) e aqueles com renda familiar mensal acima de R$ 4.650. Já vai longe a época em que o modelo de negócios da Conectiva era vender seu sistema operacional numa caixa.

Imagino que trabalhar com tecnologia também ajude, mas isso não foi avaliado na pesquisa.

Já o programa Computador Para Todos parece ter tido um efeito modesto. As famílias com renda mensal menor que R$ 931 usam o sistema operacional mais que os do estrato imediatamente superior, mas ainda assim a proporção ficou em meros 1%.

O que mais me surpreendeu foi a região Norte. Colegas nortistas, será que as comunidades daí são mais ativas?

Outra informação que não entendi foi a proporção não variar de acordo com a classe econômica. Intuitivamente, as pessoas com maior renda estão numa classe econômica superior, mas isso não é verdade, ou ao menos não para os usuários de Linux.

O estudo do CGI.br usou o critério de classe social/econômica da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa. A ABEP também divide as classes econômicas pela renda (como o IBGE), mas disponibiliza uma ferramenta que permite estimar a renda. Essa ferramenta (o Critério de Classificação Econômica Brasil — CCEB) consiste num sistema de pontos atribuídos à posse de bens de consumo e ao grau de instrução do chefe da família.

É possível ganhar muito e ter poucos bens ou pouco estudo, e talvez esse seja o perfil dos usuários de Linux.

O estudo só considerou aquilo que todo o mundo entende por computador, ou seja, dispositivos embarcados ou celulares não contam. A metodologia não considerou os computadores que não o "principal", e não consegui encontrar na metodologia a definição operacional de o que seria um computador principal, ou como lidar com o dual boot.

Como já foi dito, em 13% dos domicílios o entrevistado não soube informar o sistema operacional. Essa proporção é ainda maior na região rural, nos domicílios com menor renda familiar, e nas classes D e E. Esses números são uma ordem de grandeza superiores à fatia que usa Linux, causando imprecisão na estimativa.

Reparem que o 1% de usuários Linux é a proporção dentre todos os entrevistados, e não apenas entre os que souberam responder à pergunta. Dessa forma, o número real de domicílios brasileiros com Linux é qualquer coisa entre 1% e 14%.