segunda-feira, 12 de abril de 2010

O primeiro notebook de grupo do mundo


Daniel Conzi

Liderar uma nova empresa de tecnologia que está lançando produto inédito no mundo, o eCog, notebook para grupos. Este é o desafio do engenheiro mecânico Marcelo Ferreira Guimarães, sócio e presidente da empresa Sábia, que nasceu dentro da Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras (Certi), integrada à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis. A Sábia é uma das companhias incubadas do Sapiens Parque, polo de inovação idealizado pela própria Certi, no Norte da Ilha de Santa Catarina. Os focos da empresa aberta no ano passado e que já tem 17 empregados são conquistar mercado para o eCog, um computador multitouch que facilita o aprendizado e o trabalho em grupo, e também desenvolver sistemas para ampliar o uso do seu produto único. A atuação inicial é no mercado nacional, mas há planos para exportação a partir de 2012.

Perfil

Marcelo Ferreira Guimarães é sócio e presidente da Sábia, empresa voltada a equipamentos interativos que lançou o notebook coletivo eCog. Natural de Goiás, 46 anos, é engenheiro mecânico pela Universidade de Brasília e mestre em Engenharia Mecânica pela UFSC, onde ingressou no quadro da Fundação Certi, liderada pelo professor Carlos Alberto Schneider. Concluiu o mestrado no National Institute of Standards and Technology (EUA) e fez cursos de menor duração em Stanford e no MIT. É casado com Márcia e tem dois filhos, Vitor (16 anos) e Rafaela (11 anos).

O que é o notebook eCog?
Marcelo Ferreira Guimarães – É uma inovação radical porque é um produto que não tem concorrente no mundo. É uma tecnologia para grupo, as pessoas podem interagir ao mesmo tempo. É o primeiro notebook de grupo do mundo. Até cinco pessoas podem usá-lo ao mesmo tempo. Ele integra hardware e software para possibilitar a interatividade, colaboração, criação e co-criação entre pessoas e grupos.

Por que vocês criaram a empresa Sábia?
Guimarães – Percebemos que existe uma demanda enorme de empresas que estão preocupadas em inovar nos seus processos educacionais. Aí surgiu a ideia na Fundação Certi de que aqueles pesquisadores que atuavam nessa plataforma seriam desafiados a se tornarem empreendedores. Porque uma coisa é falar, outra coisa é praticar. Aí juntamos Certi como a detentora da tecnologia e que investiu R$ 4 milhões, um investidor angel que acreditou na plataforma e investiu mais R$ 4 milhões e os quatro empreendedores, eu mais os meus colegas engenheiros na Certi, Demétrius Ribeiro, Carlos Assuiti e Renato Turcato.

Como surgiu a ideia lançar o novo produto no mercado?
Guimarães – A Fundação Certi desenvolve tecnologias voltadas à inovação. Criamos o Sapiens Circus, um espaço que permite às pessoas agirem de forma lúdica com a tecnologia do conhecimento, que poderia ajudar no processo de transformação cultural e educacional. O projeto do eCog surgiu dessa experiência.

Quem são os primeiros clientes?
Guimarães – Fizemos um projeto para o Sesi/SC em que ele vai ensinar responsabilidade social com as pessoas em grupo, em volta, tomando decisões. A Petrobras usa nas áreas de segurança, saúde e meio ambiente. Com a TV Cultura o projeto é um jogo sobre profissões. Estamos discutindo outros tipos de treinamento para empresas, como o ensino de CAD.

Que vantagens o eCog oferece para o aprendizado?
Guimarães – A nossa pedagogia é baseada na neurociência, que é a exploração dos neurônios-espelhos. O que é isso? Como estamos trabalhando em grupo, começa a ativar parte do cérebro, da cognição, que é estimulada pelo comportamento de outras pessoas do grupo. Criamos uma tecnologia na qual as pessoas em grupo trabalham na sua cognição individual e ativam a cognição do grupo, que dá uma emergência de comportamento muito mais inteligente do que a soma das inteligências individuais. Isso amplia o aprendizado e a criatividade. Você trabalha com emoções, as pessoas ficam motivadas, a gente usa a linguagem dos jogos, colaboração com competição. O equipamento permite o uso de vários sistemas e pode ser utilizado como um computador comum.

Quanto custa o notebook e quem pode comprar?
Guimarães – Custa R$ 20 mil por unidade, mas queremos ter mais escala para reduzir esse preço. Atualmente, estamos trabalhando só com empresas, com foco em locação. Até agora fornecemos para a Petrobras e para o Sesi/SC, estamos em negociação avançada com o Sebrae nacional, com a TV Cultura de SP e fizemos contatos com outras empresas.

Quais são os planos para os mercados interno e externo?
Guimarães – Estamos priorizando, agora, o mercado interno mas nossa pretensão é levar essa inovação inédita para o mercado internacional a partir de 2012 ou 2013.

Notas

Sábia

Como era esperado, a Sábia é uma empresa que articula vários profissionais e começa a formar uma rede de parceiros para desenvolver conteúdos e aplicações ao eCog, diz o empresário Marcelo Guimarães. No próprio Sapiens Parque já existem três pequenas empresas que estão orbitando a Sábia: a Camino é especializada em educação; a Sinapse, que nasceu no departamento de cognição social da UFSC, desenvolve neurofeedbacks; e a Sensus, que está fazendo a colaboração à distância com o grupo.

Além de poder ser usado como um notebook comum, o eCog permite associar atividades usando o melhor do mundo presencial e do mundo virtual, afirma Guimarães. 

Sistemas

O produto no mercado que é mais parecido com o eCog é o Surface, da Microsoft, que também é multitouch, tem 400 milímetros de profundidade e é uma mesa.

O diferencial do produto da Sábia é que ele tem uma mesa compacta multitouch, projetor a led e pode ser transportado em uma maleta metálica com um peso total de 20 quilos. Essa mesa compacta desenvolvida pela Fundação Certi, com sistemas exclusivos, gerou várias patentes, inclusive internacionais. 

Inovação

O eCog pode ter melhor aplicação no chão de fábrica, porque no topo das empresas todos têm seu computador e mecanismos de comunicação.

– No nosso caso, é uma mesa interativa, e, as pessoas em volta, quase num ritual, vão conversando e tomando decisões. É isso que é inovador e radical – diz Marcelo Guimarães, presidente da Sábia.

Um dos jogos do Sesi é voltado à sustentabilidade, para difundir a preservação ambiental nas práticas das empresas.

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