quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Tablets e a lição das crianças da Etiópia


Recentemente, correu no mundo a notícia da experiência realizada pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), que distribuiu 40 tablets para crianças analfabetas de duas aldeias da Etiópia. Com idades entre 4 e 11 anos, elas nunca frequentaram a escola e jamais tinham entrado em contato com qualquer equipamento eletrônico. Os tablets foram entregues com diversos aplicativos instalados para entretê-las, como jogos, filmes, desenhos e alguns específicos de alfabetização para ensiná-las a ler e escrever.
Nicholas Negroponte, co-fundador e professor do Laboratório de Mídia do MIT, autor da ideia, buscou provar com o projeto que as crianças podem ser autodidatas. E de fato, após apenas sete meses, algumas delas já escreveram suas primeiras letras e palavras. Mas, por não oferecer nenhuma orientação pedagógica, o experimento mostrou-se limitado, pois sem o acompanhamento de um professor as crianças não foram capazes de entender o significado do que liam.
Qualquer iniciativa que estimule a curiosidade para aprender é, sem dúvida, louvável. Mesmo que o principal objetivo seja provar a capacidade das crianças de se desenvolverem sozinhas, como foi o caso do MIT. O entusiasmo delas com o projeto e os resultados alcançados mostram, por si só, como as tecnologias de informação e comunicação podem ser aliadas poderosas e até mesmo indispensáveis na formação dos nativos digitais (essas crianças, aliás, nem mesmo sabiam que eram nativas digitais). As novas tecnologias desempenham um papel cada vez mais preponderante no novo desafio dos educadores: transformar o formato ainda industrial das salas de aula para um ambiente capaz de motivar o aprendizado, além de promover uma educação de qualidade para uma geração movida a bits e bytes.
O uso das tecnologias digitais como recurso pedagógico e o conhecimento dos docentes em como aproveitá-las é ainda incipiente. Em uma pesquisa recente realizada pela Fundação Telefônica – intitulada “Gerações Interativas Brasil – Crianças e adolescentes diante das telas”, que entrevistou quase 2 mil crianças de 6 a 9 anos e mais de 2,2 mil jovens de 10 a 18 anos de todo País -, 40% dos jovens afirmaram que nenhum professor usa a Internet em aula e apenas 11% disseram ter aprendido a navegar com um professor.
É preciso ter claro que a transição para essa nova escola, digitalizada, interconectada, multidisciplinar, capaz de desenvolver uma didática em que se pratica uma aprendizagem baseada em projetos e além das fronteiras das salas de aula, não é apenas uma consequência das revoluções que as novas tecnologias estão trazendo para todas as áreas do conhecimento.
A escola do futuro, que precisa começar a ser construída ontem, reflete a necessidade que as empresas têm de encontrar profissionais realmente preparados para um mercado de trabalho em constante evolução. Empresas não querem mais profissionais alienados que sejam simples repositórios de conteúdos inúteis no cotidiano corporativo.
Conhecer as novas tecnologias, se comunicar e se relacionar bem, ter habilidades para pesquisar e bom raciocínio lógico, além de administrar o tempo produtivamente, buscar qualidade de vida e ser socialmente responsável são alguns dos principais atributos que os headhunters [caçadores de talentos] buscam nos talentos deste novo mundo empresarial. E a escola precisa acompanhar estas mudanças para que cumpra sua função social de preparar cidadãos que consigam iniciar suas vidas profissionais e conquistar carreiras bem sucedidas.
Ninguém discutia a importância da lousa, dos livros, dos cadernos, dos lápis, réguas, borrachas e canetas esferográficas como ferramentas de aprendizado. E não haverá razão, da mesma forma, para questionarmos os benefícios das lousas digitais, tablets, smartphones e bibliotecas virtuais.
Das inscrições rupestres nas cavernas até a invenção de Gutenberg se passaram dezenas de milhares de anos. Já o ritmo do surgimento de novas invenções e tecnologias a partir do nascimento da Internet é alucinante. Saber utilizá-las e, mais do que isso, a partir delas criar novas estratégias para ensinar e aprender é o desafio que já não nos espera. É um desafio que precisamos correr para superar e para não ficar para trás.
                                                                                                Por Luciana Maria Allan
Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP) com
especialização em tecnologias aplicadas à educação